Observava-a por detrás do vidro opaco: ela subia, descia, meneava o quadril e tirava uma peça de roupa. Não olhava para mim, e sabia que tampouco eu a via. Nossos olhos, virados para dentro, entorpecidos, sobravam em nós que transbordávamos em explosões que avançavam e destruíam e destruíam.
Para aplacar os ruídos, ela se torcia sob a luz, lânguida como a música, e eu, braguilha aberta, movimentava minhas mãos mais rápido e mais rápido e mais rápido até o desespero, até acompanhá-la em contorções e ejacular no vidro.
Mas, naquele dia, o derradeiro, seus olhos se viraram para mim, atônitos e invejosos, diante do líquido cromado, pintando de nova cor a vitrine que nos separava: a última coisa que vi antes de fechar os meus para sempre.
"Três anos assistindo-a [...]. E talvez uma parte de mim [até] tenha se apaixonado por ela, pois queria que ela soubesse quem eu era. Até que ela soube."
Este post foi parte do projeto "+QP | mais que palavras"
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P.S: A imagem foi originalmente retirada do blog https://polebliss.wordpress.com e editada por mim
Uau. Que cena inusitada para o tema. Conto curto, bem escrito e impactante. Adorei mesmo.
ResponderExcluirGosto do seu estilo de escrever, intenso, condensado. Sempre fico "suspensa!"
ResponderExcluirE não é sempre assim? A necessidade de ser reconhecido, no entanto o medo que vem com isso tambem? Que ótima forma de captar o tema, bem o seu estilo mesmo! Ótima escrita!
ResponderExcluirEi, eu te indiquei numa tag, acho que tem tudo a ver com o seu blog http://mesadecafedamanha.blogspot.com.br/2016/02/tag-recomendacoes-literarias.html
beijo grande
Ui!Adorei! Também gostei muito da imagem, seria um poli dance? Seria uma stripper? Rolou de tudo aí, que sensações... bjs
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